Cargill:
A Pior Empresa Do Mundo
Prefácio: Deputado Congressman Henry A. Waxman
A Cargill é a maior empresa privada dos Estados Unidos, maior até do que as notórias Indústrias Koch. Sua pegada se estende ao redor do mundo. Mas a pior empresa do mundo? Nós reconhecemos que isso
é uma afirmação audaciosa. Existem, infelizmente, muitas empresas que poderiam competir por essa honra duvidosa. Mas este relatório fornece evidências extensivas e convincentes para respaldar isso.
As pessoas que adoeceram ou morreram por comer a carne contaminada da Cargill, os trabalhadores infantis que cultivam o cacau vendido por Cargill para o chocolate do mundo, os habitantes do médio oeste dos EUA que bebem água poluída pela Cargill, os indígenas deslocados pelo vasto desmatamento para cultivar a ração animal da Cargill, e os consumidores comuns que pagaram mais para colocar comida na mesa de jantar por causa da má-fé financeira da Cargill — todos sentiram o impacto deste gigante do agronegócio. Suas vidas são piores por terem entrado em contato com a Cargill.
Na minha longa carreira de 40 anos no Congresso, enfrentei uma série de empresas que se envolviam em práticas abusivas. Eu vi de primeira mão o impacto prejudicial de empresas que não trazem sua ética ao trabalhar. Mas a Cargill se destaca.
Em contraste com as indústrias de petróleo e tabaco, por exemplo, as más práticas documentadas aqui não são inerentes aos produtos que a Cargill vende e, na verdade, são totalmente evitáveis. Por exemplo, talvez o maior impacto negativo da Cargill no mundo natural seja seu papel na condução da destruição das últimas florestas e pradarias intactas do mundo.
Existem mais de um bilhão de acres de terra anteriormente degradada, onde as lavouras podem ser cultivadas sem comprometer ainda mais os ecossistemas nativos, sem custo adicional. Da mesma forma, outras empresas cultivam ração animal em larga escala sem os mesmos níveis de poluição da água ou do clima.
Do óleo de palma no Sudeste Asiático à agricultura aqui nos Estados Unidos, a Cargill tem ignorado as iniciativas para melhorar a indústria. Para resolver essas lacunas, nos últimos cinco anos, a equipe da Mighty Earth se envolveu em extensas discussões de alto nível com a Cargill. Nossa equipe elogiou a empresa em 2014, quando o CEO David MacLennan se comprometeu a acabar com o desmatamento em toda a empresa até 2020, e mais tarde quando se comprometeu a parar de extrair cacau de dentro dos parques nacionais.
Em janeiro, compartilhamos um rascunho deste relatório com a Cargill. Dias antes de seu lançamento agendado, o Sr. MacLennan nos chamou para solicitar algumas semanas para considerar nossas descobertas e, mais importante, nossas recomendações para mudanças. Nós concedemos a chance à Cargill. Duas semanas depois, ele assumiu que a Cargill adotaria políticas para evitar a destruição do habitat nativo e que ele pessoalmente faria lobby com outros CEOs da indústria para fazer o mesmo.
Infelizmente, estes últimos meses apenas confirmaram a incapacidade da empresa de responder de forma eficaz e a incapacidade do Sr. MacLennan de fornecer mudanças reais.
Poucos dias após seu compromisso, o segundo em comando do Sr. MacLennan questionou publicamente o valor de políticas rígidas para proteger o habitat nativo. A Cargill levou meses para realizar discussões significativas com outras empresas que já haviam adotado políticas sólidas de sustentabilidade, ou para abordar questões relativamente simples em sua cadeia de mantimentos de óleo de palma que outras empresas haviam enfrentado há muito tempo. Enquanto isso, continuamos recebendo dados, descritos neste relatório, sobre os graves problemas atuais da Cargill com o desmatamento e o trabalho infantil.
Apesar dos desafios, abaixamos a campanha por cinco meses, na esperança de que as discussões dessem à Cargill a chance de mudar. Infelizmente, os compromissos de David MacLennan não pareciam traduzir-se em ações significativas por parte de outras pessoas da empresa. Ficamos particularmente decepcionados quando a Cargill divulgou um “Plano de Ação da Soja” que permite que os fornecedores continuem desmatando e, mais recentemente, quando emitiu uma carta aos seus fornecedores que se opõe à disseminação de políticas de conservação florestal para o Cerrado brasileiro. Essas ações foram uma refutação direta dos compromissos do Sr. MacLennan. Nós conseguimos fazer melhorar as práticas ambientais e de direitos humanos de dezenas de empresas, mas nunca encontramos uma empresa que tenha tanta dificuldade em traduzir compromissos de alto nível em ação.
Enquanto o Sr. MacLennan parece querer fazer a coisa certa, ele parece incapaz de decidir entre aqueles que acreditam que a Cargill pode fazer melhor e aqueles que querem manter os tratores rolando. Infelizmente, como o status quo é desmatamento, trabalho infantil e poluição, a vacilação da Cargill resulta em um desastre ambiental e de direitos humanos. E como o alcance da Cargill é tão amplo, eles arrastam outras empresas para ajudar e incentivar a destruição ambiental e os abusos dos direitos humanos também.
Ahold Delhaize, gigante do setor de supermercados (proprietária da Giant, Stop & Shop, Hannaford, Food Lion e outras marcas) pode dizer que quer fornecer carnes responsáveis, mas não consegue fazê-lo enquanto estiver em parceria com a Cargill para fornecer seus produtos. O “Alvo climático baseado na ciência”, alardeado pelo McDonald's, carece de significado desde que a Cargill, fabricante de Chicken Nuggets e Big Macs, impulsione a poluição climática em grande escala.
Essas empresas — e mais de uma centena de outras — sondaram repetidamente a Cargill para mudar. Mas a Cargill também repetidamente desafiou esses apelos. Se essas empresas quiserem cumprir suas políticas ambientais e de direitos humanos, elas devem ir além do incentivo educado e transferir suas compras para empresas mais responsáveis.
Somente mantendo a Cargill e seus clientes publicamente responsáveis podemos forçá-los a mudar. A ação concertada de cidadãos e empresas consumidoras tem impulsionado enormes progressos em muitas partes da indústria agroalimentar. Agora é hora para a empresa que se propõe ser líder nesse setor finalmente agir dessa forma.
Henry Waxman
Ex-membro do congresso ; Presidente, Mighty Earth
Reconhecemos que essa é uma afirmação audaciosa. Mas quando se trata de abordar os problemas mais importantes que nosso mundo enfrenta, incluindo a destruição do meio ambiente, a poluição de nosso ar e água, o aquecimento do globo, o deslocamento de povos indígenas, o trabalho infantil e a pobreza global, a Cargill não apenas está consistentemente em último lugar, mas está impulsionando esses problemas em uma escala que ofusca os competidores mais próximos.
Que a Cargill faria um amplo compromisso para depois ignorá-lo não deve ser grande surpresa.
Desde a suspensão de sua filiação no comitê de comércio pelo Chicago Board of Trade e pela U.S. Commodity Exchange Authority logo após a data de incorporação da empresa, até sua responsabilidade na distribuição de 66 milhões de toneladas de carne contaminada para supermercados neste ano – a Cargill tem uma história longa e sórdida de duplicidade, engano e destruição. Somente as duas últimas décadas fornecem dúzias de exemplos.
Um Cronograma de mal Comportamento:Um Cronograma de mal Comportamento:
Que a Cargill faria um amplo compromisso para depois ignorá-lo não deve ser grande surpresa. Desde a suspensão de sua filiação no comitê de comércio pelo Chicago Board of Trade e pela U.S. Commodity Exchange Authority logo após a data de incorporação da empresa, até sua responsabilidade na distribuição de 66 milhões de toneladas de carne contaminada para supermercados neste ano – a Cargill tem uma história longa e sórdida de duplicidade, engano e destruição. Somente as duas últimas décadas fornecem dúzias de exemplos.
Um Padrão de Engano e Extermínio
Hoje, pode ser que uma empresa privada apenas tenha mais poder para sozinha destruir ou proteger o clima e a água do mundo, a segurança alimentar, a saúde pública e os direitos humanos do que qualquer outra empresa da história. E não é uma empresa de petróleo ou carvão, nem nenhum dos suspeitos comuns. É o agronegócio gigante da Cargill, localizado em Minnesota. A Cargill é a maior empresa privada da América, ultrapassando o segundo lugar dos Irmãos Koch por bilhões de dólares em renda anual. A Cargill é o colosso coorporativo no nexo do sistema industrial global de agricultura, um sistema que ela arquitetou para converter grandes porções do planeta em monoculturas quimicamente dependentes e de escala industrial para que produzam carne, azeite de dendê e chocolate baratos.
A partir de 2019, as restrições políticas que no passado poderiam limitar seu poder essencialmente sumiram. Isso tem sido graças à ascensão de presidentes extremistas e antiambientalistas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os principais consumidores, respectivamente, das mercadorias que a Cargill negocia. Em outras partes do mundo, como a Indonésia e o África Ocidental, a Cargill continua explorando administrações fracas ou governos frágeis ou corruptos para adquirir quantidades vastas de azeite de dendê, cacau e outras matérias primas que até bem recentemente foram produzidos com poucas considerações ambientais e com salários baixos.
A Cargill já mostrou sua capacidade de fazer tanto o bem quanto o mal em grande escala. Mas as proteções ambientais e as lideranças climáticas dos governos do Brasil e dos Estados Unidos que no passado podiam mediar os piores instintos da empresa estão atualmente retrocedendo. E visto que a Cargill é uma companhia privada, ela não é sequer responsável por acionistas públicos de modo a recompensar boa cidadania coorporativa.
A Cargill impulsiona problemas globais em uma escala que ofusca os competidores mais próximos.
No decorrer de sua história, a Cargill tem apresentado um padrão inquietante de engano e extermínio. Tal como este relatório detalha, suas práticas têm variado da violação de embargos comerciais e da manipulação de preços, até a negligência deliberada de códigos de saúde e a criação de mercados para produtos confeccionados com trabalho infantil e forçado. Sob pressão, a Cargill reformou suas práticas em muitas áreas – o que demonstra que ela pode mudar se quer fazê-lo. Mas contrário à visão que ela tem de si mesma de ser líder, ela normalmente fica sem disputa em último lugar. Ela ainda é um retardatário com relação a múltiplas industrias, arrastando-se atrás de iguais como Louis Dreyfus e Wilmar.
Logo após tornar-se corporação sob o presente nome há 80 anos, a Cargill foi rejeitada dos maiores mercados de opções e a término do país por tentar sufocar o mercado de milho. Décadas mais tarde, em 2017, a Cargill foi multada em 10 milhões de dólares pela Commodity Futures Trading Commission (Comissão de Mercados a Término de Produtos) por anos de falsos relatos deliberados sobre seu valor comercial – com diferença de até 90% – com fim de defraudar tanto o governo quanto seus parceiros comerciais.1 Como este relatório pretende destacar, David Dines, o executivo que criou e supervisionou o departamento responsável por essas violações, foi promovido à posição de Oficial Financeiro Chefe.2 Em 2018, a Cargill foi responsável pela distribuição de mais de setenta e oito toneladas de bife contaminado para supermercados.34 No meio-tempo, a empresa saqueou o planeta e enganou seus trabalhadores e fazendeiros, tudo isso enquanto gerava riqueza suficiente para criar mais bilionários do que em qualquer outra família do mundo.5
De várias maneiras, o setor privado tem mais influência que a maioria dos governos sobre o destino do mundo. Empresas como a Cargill – e negócios como Ahold Delhaize (Stop & Shop, Giant, Food Lion, e Hannafords), McDonalds, e Sysco que vendem produtos a consumidores – são responsáveis por muitas das catástrofes ambientais que se alastram pelo globo.
Um Perigio Claro e Presente
Em nenhum lugar é o padrão de engano e extermínio da Cargill mais visível do que em sua participação na destruição dos “pulmões do planeta”, as florestas do mundo. A pesar de promessas repetidas e altamente divulgadas que indicam o contrário, do Brasil, Bolívia e Paraguai, até a Indonésia, Gana e Costa do Marfim, a Cargill continua assolando dentro dos limites da lei o máximo possível de ecossistemas milenares – e, com frequencia excessiva, também fora de tais limites.
Com a eleição do presidente brasileiro Jair Bolsonaro – que prometeu abrir terras indígenas e outras áreas protegidas à exploração irrestrita – a Cargill representa uma ameaça clara e presente a alguns dos ecossistemas mais vitais da Terra. Assim como qualquer outro país, o Brasil tem direito ao líderes que escolhe. Mas na posição de consumidores do comercio global, a clientela da Cargill ela também tem direito em insistir em políticas corporativas que protejam o meio ambiente e direitos humanos. Essa clientela deve agir com vigor e pressa.
Se os maiores clientes da Cargill – tais quais Ahold Delhaize, McDonalds, WalMart, Sysco e outros – forem sérios em seu compromisso para com a sustentabilidade e os direitos humanos, eles devem cortar laços com a Cargill, ou então arriscar serem cúmplices de uma das maiores farras de crime da história contra o meio ambiente e os direitos humanos.
Foto: Jim Wickens
Foto: Jim Wickens
Brasil: Um Legado Glorioso em Risco
Até agora, o Brasil tem sido um líder na batalha contra mudança climática. Desde de meados dos anos 2000, o país tem se comprometido com programas ambiciosos para refrear o desflorestamento da Amazônia. Ele fez um corte impressionante de dois terços do desflorestamento em seu pico, e fez isso enquanto sua produção agrícola dobrou ao focar na expansão sobre terras degradadas.
Mas a eleição de Jair Bolsonaro a Presidente em 2018 pode pôr fim a esse digno legado. Bolsonaro tem incitado violência contra a comunidade gay e lésbica do Brasil, e encarcerado ou banido seus críticos políticos. Ele elogiou a ditadura militar que precedeu a democracia atual do Brasil. Também parte de seu projeto político foi sua promessa de promover agricultura e exploração madeireira e mineral pelas florestas, savanas e outros ecossistemas preciosos do Brasil.
De acordo com o pesquisador brasileiro Paulo Artaxo, um membro do painel Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) entrevistado pela Science Magazine, “É possível que enfrentaremos um desastre ambiental sem precedentes nos próximos quatro anos.”7
Bolsonaro disse que o Brasil tem “áreas protegidas em excesso” que “atrapalham o desenvolvimento”, e que o policiamento de desflorestamento foi longe demais. Ele disse a empresas de agronegócios que ele reverterá as leis atuais e dará carta branca à industria.8 Ele jurou eviscerar o Ibama, remover restrições no tratamento industrial da Amazônia e pavimentar uma rodovia que corte a floresta.9 Ele tem por muito tempo apoiado a abertura de áreas indígenas para uso agrícola e comercial,10 e prometeu que enquanto presidente ele não “daria um centímetro para reservas indígenas.”11
“Acho que nos encaminhamos para uma período muito obscuro da história do Brasil. Não precisa disfarçar. Bolsonaro é a pior coisa que aconteceu para o meio ambiente.”
De acordo com o ex-ministro do meio ambiente, Edson Duarte, “O aumento no desflorestamento será imediato. Temo uma caça ao tesouro para ver quem chega primeiro. Eles saberão que, se ocuparam ilegalmente, as autoridades serão cúmplices e darão aval. Eles terão certeza que ninguém os incomodará.”13 14 15
Muitos brasileiros não apoiam essa parte do projeto de Bolsonaro – e uma coalizão de mais de 180 negócios e organizações da sociedade civil chamada Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura tem corajosamente – e com sucesso – desafiado o novo governo para que ele não saia do Acordo de Paris nem destrua o Ministério do Meio Ambiente.16
A Cargill declarou seu apoio a essa coalizão.17 Os clientes da Cargill devem garantir que essa não é apenas mais uma das numerosas promessas vazias da Cargill.
Dave Perdedor Todo Dia
O diretor executivo da Cargill David MacLennan tem se posicionado como um líder durão em sustentabilidade. Mas elle e a Cargill estão consistentemente em último lugar.
O Negócio de Destruir O Meio Ambiente
Em 2014, na Cúpula de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, o diretor executivo da Cargill David MacLennan ficou lado a lado com o Secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e se comprometeu a agir contra mudanças climáticas através da eliminação do desflorestamento de suas cadeias de fornecimento.
“Tenho orgulho de anunciar que hoje a Cargill tomará medidas práticas para proteger as florestas nas várias etapas de nossas cadeias de fornecimento pelo mundo”, disse MacLennan, ao unir-se a 150 países, negócios, e organizações da sociedade civil que anunciaram seu apoio à Declaração de Nova Iorque cujo objetivo é reduzir dramaticamente o desflorestamento global.
Por cause do tamanho e impacto da Cargill, sua assinatura desse compromisso foi recebida como tendo o potencial de dramaticamente diminuir o desflorestamento, inibir mudanças climáticas e proteger comunidades pelo mundo.
Mas depois que a cúpula se encerrou e os aplausos silenciaram, a Cargill pisou na bola. Depois ela a esmagou.
Desde a assinatura da Declaração, a Cargill tem continuado a impulsionar a destruição de paisagens intocadas, continuando a ser um dos piores agentes do cenário mundial, e uma das maiores ameaças a ecossistemas nativos pelo globo.
Há anos que a Mighty Earth e outras organizações de conservação, bem como a clientela da Cargill, têm tentado responsabilizar a Cargill pelo não cumprimento de suas promessas. Agora, cinco anos após o comprometimento da Cargill, e faltando apenas um ano no cronograma para eliminar o desflorestamento de sua cadeia de fornecimento, vem o alvorecer de um vale-tudo antiambientalista no Brasil. É hora da clientela parar de apoiar e incentivar a Cargill ao comprar e vender seus produtos.
Ao assinar “A Declaração de Nova Iorque sobre Florestas”, MacLennan e a Cargill se comprometeram a “eliminar o desflorestamento da produção de mercadorias agrícolas como azeite de dendê, soja, papel e produtos de carne bovina até no máximo 2020.”
Cargill e Soja
Mais de um milhão de quilômetros quadrados do planeta – equivalentes à área total combinada da França, Alemanha, Bélgica e Holanda – teve sua vegetação natural removida para o plantio de soja, um dos ingredientes primários de alimentação animal usada para gerar carne. Mais de três quartos da soja do mundo é usada na alimentação pecuária.18
O desflorestamento para produção de soja acelera mudanças climáticas através da emissão de carbono, destrói habitats selvagens e perturba ciclos hidrológicos, limitando a disponibilidade de água.
Em toda a América do Sul, a Mighty Earth rastreou as pegadas da Cargill. Nosso relatório de 2017 “A Carne Mais Misteriosa que Há” (The Ultimate Mystery Meat) foi uma investigação de campo de 28 localidades diferentes que produzem soja no Brasil e na Bolívia. Ele demonstrou que a Cargill foi um dos maiores clientes de operações industriais de tratamento florestal com fins agrícolas.
“O nível de destruição foi assustador. Documentamos escavadeiras no processo de preparar vastas prados e demais áreas florestais, assim como incêndios enormes lançando fumaça no ar.”
Além de seu papel na criação de mercado para soja provinda de desflorestamento, descobrimos que a Cargill financia diretamente operações de preparação de solo nas profundezas da mata virgem, construindo silos e estradas, para então comprar e despachar grãos para os EUA, China e Europa, para alimentar galinhas, porcos e vacas.
Após nosso relatório ser coberto por diversas publicações pelo mundo, tais quais The New York Times, The Guardian, CTV, Le Monde e outras, importantes companhias de consumidores, investidores e governos pressionaram a Cargill para que cumprisse seu compromisso de acabar com o desflorestamento na América Latina.
Meses mais tarde realizamos um monitoramento a satélite das áreas que havíamos visitado. Dada a fiscalização que se impôs a Cargill, e seu compromisso com seus clientes, presumimos que ela lançaria uma campanha intensa para acabar com o desflorestamento pelo menos nessas localidades.
Em contraste, descobrimos que a Cargill ainda estava envolvida com desflorestamento em algumas das mesmas árias visitadas inicialmente, apesar da fiscalização.
Povos indígenas que dependem de florestas tiveram suas terras invadidas por plantações de soja. Eles foram forçados a sair de suas terras tradicionais, e vivenciaram um aumento agudo em câncer, defeitos de nascimento, abortos espontâneos e outras enfermidades associadas a pesticidas e herbicidas usado no cultivo de soja – muitas vezes borrifados do céu por aviões.
A própria história da Cargill com a soja mostra que o desflorestamento não é nem necessário nem inevitável. No único lugar onde a Cargill foi forçada a parar sua destruição, a empresa consegui tanto proteger ecossistemas e desenvolver seu negócio.
Em 2006, depois de uma campanha grande da Greenpeace e outras, a Cargill e seu cliente McDonald’s concordaram em um moratório sobre remoção da floresta amazônica para campos de soja. Nos dois anos anteriores ao acordo, quase um terço das novas plantações de soja na Amazônia brasileira vieram da destruição da floresta. Após o acordo, a cifra caiu para um por cento.
Enquanto isso, a industria da soja conseguiu se desenvolver em passo tremendo. A medida que o desflorestamento afundava, a área na qual se planta soja na Amazônia brasileira mais que triplicou.
Expansão sem desflorestamento é possível. Quando forçada, a Cargill e outras trocaram o foco para terras previamente desflorestadas, e práticas agrícolas mais eficientes.
Se apenas uma porção dessa terra fosse desenvolvida para agricultura, ela proveria espaço amplo para se alcançar tanto a expansão agrícola como a restauração ecológica.19
Muitos dos clientes da Cargill, tais quais Unilever, Tesco, McDonald’s, Carrefour, Kellogg’s, Sainsbury’s, Mars, Petcare, Ahold Delhaize, Dunkin’ Brands, e Nestle tem incentivado a extensão desse sucesso para outros ecossistemas.20,21 Louis Dreyfus e Wilmar, competidores da Cargill, também tem estimular essa expansão. Mas a Cargill se recusa e, pelo contrário, usa sua influência para comercias associações que impedem que seus competidores mais responsáveis expandam essas proteções.
Holofotes No Cerrado
Embora bem sucedido o Moratório sobre Desflorestamento para Soja só se aplica às porções da Amazônia dentro do Brasil. Ele não protege a floresta amazônica de outros oitos países. Ele também não protege outras florestas e prados fora do Brasil com o Gran Chaco da Argentina e Paraguai. Finalmente, ele não protege áreas ecológicas críticas no Brasil mas fora da Amazônia, como o magnífico Cerrado brasileiro.
O Cerrado do Brasil é a savana biologicamente mais rica do mundo. Aproximadamente do tamanho da Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha combinados, ela abriga uma em vinte das espécies da Terra, como o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, a onça-pintada, o lobo-guará e centenas de outras espécies – bem como mais de 10.000 espécies de plantas, das quais quase metade não se encontra em nenhuma outra parte do mundo.
Conhecida como “floresta de cabeça para baixo” por causa de suas árvores pequenas com raízes profundas, o Cerrado é fonte de metade da água do Brasil e tem uma capacidade contentora de carbono enorme.
Mas na última década mais de 4.000 milhas quadradas tem sido convertidas em plantações por ano – duas vezes o ritmo observado nos anos 90.22 Agora, menos da metade do Cerrado permanece intacto, e apenas 3% protegido.
Quando florestas tropicais são cortadas e queimadas, o carbono armazenado é imediatamente emitido na atmosfera como dióxido de carbono, gerando um décimo das emissões do aquecimento global.23
Há mais de meio bilhão de acres de terra já degradada na América Latina que poderia ser usada para expandir a agricultura, e não há motivo senão a inércia corporativa para que se continue a destruir essas paisagens riquíssimas.24
Por dez anos, os maiores clientes da Cargill, bem como oficiais de governo e a sociedade civil, pedem que ela e outros comerciantes de soja expandam o moratório, protejam áreas críticas e foquem a expansão em terra já degradadas.25 A Cargill recusa.
Em média 3,6 milhões de hectares de florestas sul-americanas foram destruídas por ano entre 2005-2010, a maioria para produção de soja e criação de gado.26
A Destruição Do Gran Chaco
O Gran Chado é um ecossistema de 100 milhões de hectares que abrange a Argentina, a Bolívia e o Paraguai. É o maior trecho contínuo de vegetação nativa da América do Sul que resta, perdendo em tamanho apenas para a floresta amazônica.
Essas florestas abrigam comunidades vibrantes de povos indígenas, tais quais o Ayoreo, Chamacoco, Enxet, Guarayo, Maka’a, Manjuy, Mocoví, Nandeva, Nivakle, Toba Qom, e Wichi, que coexistem na floresta do Chaco, e dela dependem, por milênios.
No passado um reduto impenetrável de criaturas como o tatu peludo gritador, a onça-pintada e o tamanduá-bandeira, a Cargill tem infiltrado essas fronteiras, aplanando e queimando para dar espaço a vastos campos de soja geneticamente modificada.
Em 2018, uma equipe de campo da Mighty Earth visitou plantações de soja espalhadas pelo ecossistema do Gran Chaco e documentou uma destruição extensiva de ecossistemas naturais, parte dela ilegal e parte sob o disfarce de legalidade. Rastreamos a soja de floresta recentemente removida aos portos onde a Cargill a despacha para o mundo.
A tragédia da destruição que documentamos é que ela é completamente evitável. Enquanto carne é inerentemente um produto que requer recursos intensos, ela não dependa da destruição de ecossistemas nativos. A América Latina contem uma área de terra previamente degradada maior do que a metade dos Estados Unidos continental, onde soja e gado podem crescer sem ameaçar ecossistemas nativos. Técnicos especialistas que lograram êxito em projetar o sistema que praticamente eliminou o desflorestamento para soja na Amazônia brasileira estima que para estender o monitoramento de umas regiões cultivadoras de soja na América Latina custaria menos que um milhão de dólares por ano, um fração do lucro anual da Cargill.
Violações de Direitos Humanos e Violência Contra Comunidades Indígenas
Muitas comunidades indígenas moram em florestas e delas dependem para comida, água, abrigo e sobrevivência cultural. Produtores de soja, fazendeiros, exploradores ilegais de madeira muitas vezes usam violência para deslocar povos indígenas de sua terra ancestral.
As equipes investigativas da Mighty Earth têm visitado comunidades indígenas cujos territórios tradicionais foram cortados e transformados em campos de soja com proprietários estrangeiros. A safra é exportada para o exterior e os que trabalham nessas terras dizem que vendem para a Cargill. A Cargill nega as alegações.
Um líder do vilarejo descreveu para nossa equipe o medo que sua comunidade vivenciou quando aviões borrifavam pesticidas para soja a poucas centenas de metros do vilarejo, e quando houve morte de algumas crianças que beberam água de uma garrafa de pesticida descartada que trouxeram de um campo de soja próximo.
Outra comunidade indígena foi invadida em 2014 por 50 seguranças armados de uma plantação vizinha que os intimaram a sair da região. Segundo jornais, e também corroborado por testemunhos coletados por nossa equipe de campo na comunidade, os seguranças armados quebraram portas e invadiram as casas, agrediram adultos e crianças e chutaram mulheres grávidas – algumas das quais perderam seus bebês. Trinta e três membros da comunidade foram feridos. Três guardas e sete pessoas indígenas receberam tiros. Um guarda morreu.
Um líder da comunidade nos disse que a plantação os acusa repetidamente de invadir suas próprias terras tradicionais, e que seu povo vive com medo constante que os oficiais de segurança privada retornarão. Ele disse que os rios estão tão poluídos com pesticidas que os peixes nos quais dependem estão morrendo e que as oportunidades para caçar quase desapareceram.
Cargill e Cacau
A Cargill é uma entre apenas três empresas – juntoo à Olam e Barry Callebaut – que controlam mais da metade do comércio global de cacau, a matéria-prima do chocolate.27
Em 2017, investigações da Mighty Earth rastrearam cacau de operações ilegais em parques nacionais, por meio de intermediários, a esses comerciantes, que então o venderam para Europa e Estados Unidos onde as empresas confeccionarias do mundo fizeram com ele chocolate.
A Gana e a Costa do Marfim são dois dos maiores produtores de cacau do mundo, e em ambos o mercado para cacau tem sido caracterizado principalmente pela destruição de florestas. Chimpanzés e outras populações selvagens têm sido devastados pela conversão de florestas em fazendas de cacau. Na Costa do Marfim, sobram menos de 400 elefantes da população original de dezenas de milhares.
Nossa investigação descobriu que por anos a Cargill tem ajudado a impulsionar a destruição das florestas desses países para crescer cacau barato – comprando cacau cultivado através da remoção ilegal rotineira de florestas protegidas e parques nacionais e outras áreas protegidas.
Em mais de vinte desses parques nacionais e áreas protegidas, 90% ou mais da massa de terra já convertida em cacau. Entre 2001 e 2014, a Gana perdeu 7.000 quilômetros quadrados de floresta, ou cerca de 10 por cento de cobertura arbórea inteira, incluindo um quarto de milhão de acres de áreas protegidas. Aproximadamente um quarto desse desflorestamento era conectado com a industria do chocolate.28
A Cargill decidiu comprar seu cacau sem fiscalização de suas origens. Ela então vendeu esse cacau para as principais empresas de chocolate do mundo, fazendo milhões de consumidores cúmplices involuntários na destruição dos parques, florestas, elefantes e chimpanzés da África Ocidental.
Em 2017, a Cargill uniu-se a outras empresas de cacau e chocolate e ao governo da Costa do Marfim e da Gana na Iniciativa de Cacau e Florestas, comprometendo-se a encerrar imediatamente o abastecimento provindo de parques nacionais e áreas protegidas, para restaurar florestas, e para passar a adotar práticas mais responsáveis. A Mighty Earth recebeu o anúncio como um passo positivo que finalmente ofereceu esperança para a população selvagem abatida da África Ocidental, e esperança de um futuro mais sustentável para os fazendeiros carentes que fornecem para a Cargill.
Mas um ano mais tarde retornamos para investigar, e descobrimos que em muitos lugares, o desflorestamento aumentou desde que a Cargill anunciou seu compromisso – colocando em dúvida a seriedade do comprometimento da Cargill, talvez mais um de uma longa listas ocasiões positivas de fanfarra seguida de negligência.
A Exploração do Trabalho ao ar Livre Da Cargill
Estima-se que 2,12 milhões de crianças da África Ocidental ainda participam da colheita de cacau.29 Quase 96% desses trabalhadores infantis tanto da Gana quanto da Costa do Marfim se envolveram em condições de labor perigosas. A Cargill tem postergado por duas décadas. Seu pouco ambicioso comprometimento atual é de reduzir – não erradicar – o trabalho infantil em cacau por 70% até 2020.30
Em julho de 2005 o Fórum Internacional de Direitos Trabalhistas (International Labor Rights Forum – ILRF) processou a Cargill em nome das crianças malinesas que foram traficadas do Mali à Costa do Marfim e forçadas a trabalhar de doze a catorze horas por dia sem pagamento, pouca comida e sono, e surras frequentes.
Segundo o ILRF, a Cargill “ignorou avisos repetidos e bem documentados durante os últimos anos de que as fazendas que estavam usando para cultivar cacau empregavam trabalhadores infantis escravos.”
O processo acusa a Cargill pela compra informada, durantes anos, de cacau colhido por escravos infantis, e do pelo fornecimento de fundos, suprimentos, treinamento e outras assistências para as plantações da Costa do Marfim onde sabiam que havia uso de crianças escravas.
Em outubro deste ano, um painel de três juízes rejeitou os argumentos da Cargill e da co-réu Nestlé de que não se podia acusá-los por escravidão de crianças fora do país. O Tribunal decidiu que o caso pode prosseguir, e as corporações gigantes são condenadas por terem, de suas firmas corporativas nos Estados Unidos, ajudado e incentivado o trabalho infantil, e obtido lucro com tal prática.
A equipe legal da ILRF abrirá em breve novas acusações contra a Cargill e outras por se beneficiar conscientemente do tráfico de crianças à escravidão para que se colha cacau.31
Cargill e Azeite de Dendê
Sendo uma das maiores exportadoras do mundo de azeite de dendê, a Cargill é uma das empresas que mais auxiliou a destruição alarmante da floresta amazônica e de turfeiras ricas em carbono, contribuindo significantemente com as mudanças climáticas, as mortes de mais de 100.000 orangotangos e a perda das terras e meios de subsistência de comunidades indígenas.
A Cargill consistentemente se autodescreve como “líder” no setor – mas repetidamente, por todo o mundo, continua a chegar em último lugar. É difícilnão notar o padrão.
A empresa tem expulsado povos indígenas de suas terras natais,32 e comprado azeite de dendê de destruidores de floresta que ilegalmente incendiaram florestas e traficaram trabalho infantil e escravo. 33,34,35,36 Executivos de um de seus fornecedores foram multados e presos por causar fogos florestais37 – contribuindo para o aplanamento tóxico de incêndios começados por empresas de azeite de dendê e madeireiras que já mataram mais de 100.000 pessoas pelo sudeste da Ásia.38
O azeite de dendê está presente em quase metade dos bens de consumo, desde doces e sorvete até detergentes e xampu. Preocupações sobre desflorestamento levaram muitos varejistas e fabricantes de tais bens a apelar para que cultivadores e comerciantes reformem suas práticas.
Em 2016, o conglomerado gigantesco situado na Malásia IOI foi pego despejando lixo em florestas amazônicas protegidas, drenando e escavando turfeiras ricas em carbono e explorando comunidades e trabalhadores locais.39,40 Como consequência, a Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO) suspendeu o certificado de sustentabilidade da IOI, e outras 26 empresas cancelaram seus contratos com a IOI, tais quais a Unilever, Kellogg Company, Mars, Hershey’s, Colgate-Palmolive, Johnson & Johnson, Procter & Gamble, Yum! Brandse e Nestlé.41 Apenas meses mais tarde, depois de pressão pública crescente e contínua, a Cargill uniu-se ao resto da comunidade de negociantes em cortar os laços.
Similarmente, no fim de 2017, a Cargill suspendeu seus negócios com a empresa de azeite de dendê Reforestadora de Palmas del Petén, S.A (REPSA) — isso apenas após anos de pressão por organizações ambientais e de diretos humanos nos EUA e na América Latina.
Dois anos antes, a REPSA fora identificada como responsável por contaminações gigantescas de um dos maiores rios da Guatemala, resultando na morte desmedida de mais de cento e cinquenta toneledas de peixe, e devastando mais de cem comunidades que dependem do rio. Após um processo iniciado por um grupo da comunidade local, um tribunal da Guatemala condenou a REPSA por “ecocídio” e ordenou a suspensão de suas operações. Depois desse julgamento, o porta-voz da Comissão Rigoberto Lima Choc, professor indígena, foi assassinado, e três outros membros do grupo foram raptados. A REPSA forçou a reversão do julgamento. Depois de dois anos de pressão incansável, a Cargill finalmente suspendeu-lhe o contrato.42
Sujando O Ar e Água da Ámerica
A produção de carne tem um impacto ambiental maior que quase qualquer outra atividade humana.
A Cargill é a segundo maior processador de carne na América do Norte e o maior fornecedor de carne moída do mundo.44
Alimentar e criar carne consume mais terra e água fresca que qualquer outra industria, e o lixo colateral da industria é um das maiores fontes de poluição do planeta. Embora muitos desses impactos se concentrem nos Estados Unidos, onde a agricultura industrial tem reduto, eles estão se espalhando a outras partes do mundo.
A industria da carne pode reduzir dramaticamente muitos desses impactos através de melhores práticas agrícolas que abasteçam o pasto e promovam a pecuária, tais como o cultivo de cobertura, gerenciamento de fertilizantes, conservação da vegetação nativa, melhoras no pasto e processamento de estrume. Grander produtores de carne como a Cargill que consolidaram se controle sobre o mercado têm o poder de melhorar dramaticamente a cadeia de fornecimento. Contudo pouco se fez até agora – não se examina a negligência de assuntos públicos e a permissibilidade da expansão de práticas de criar e alimentar gado que danificam o meio ambiente.
No decorrer dos últimos 3 anos, 10 instalações da Cargill ficam fora das conformidades das regras de emissão EPA todos os bimestres. A Cargill se aproveita do governo de Trump do mesmo modo que o faz no Brasil, tirando vantagem de retrocessos na punição por crimes ambientais.
O impacto da Cargill também inclui a comercialização da safra que ela compra, vende e processa. A poluição involuntária de milho e soja, os quais a Cargill produz e processa basicamente mas que qualquer outra empresa no país, é responsável por mais de metade do nitrogênio e um quarto do fósforo que se encontra no Golfo do México, o que causa anualmente uma acumulação excessiva de sargaços. Se a Cargill adotou políticas de redução de impactos ambientais na sua comercialização da safra no estrangeiro, ela não adotou alguma em suas cadeias de fornecimento nos EUA.
A Cargill está entre os dez maiores poluidores nos EUA na indústria alimentícia, pelas toxinas químicas seguintes: :
A Cargill está entre os 10 principais poluidores nos EUA para todos os seguintes produtos químicos tóxicos:
Negligente, Não Inevitàvel
Em 2009, numa investigação premiada com um Pulitzer, O New York Times encontrou um padrão de negligência e obstinação ilustrado pelo papel da Cargill em uma epidemia desastrosa de E. coli O157:H7, uma variedade especialmente virulenta de uma bactéria encontrada em fezes animais.46
Os investigadores do New York Times descobriram que hambúrgueres da Cargill contaminados de E. Coli foram vendidos na Sam’s Club com etiqueta: “American Chef ’s Selection Angus Beef Patties.”
Segundo O Times, os hambúrgueres, cujos ingredientes listavam apenas “carne”, “foram feitos com uma mistura de aparas do matadouro e um produto pastoso derivado de restos, tudo moído numa planta em Wisconsin. Os ingredientes vieram de matadouros no Nebraska, Texas e Uruguai, e de uma empresa da Dakota do Sul que processa aparas de gordura e as trata com amônia para matar bactérias.”47
Usando uma combinação de fontes em vez de cortes inteiros de carne faz a Cargill economizar 25 por cento em custos, mas os ingredientes de terceira são cortados de áreas da vaca que têm mais chance de ter contato com fezes, que portam E. coli.
O Times revelou quem nas semanas anteriores à epidemia de 2007, inspetores federais repetidamente encontraram a Cargill violando seus próprios procedimentos no manuseio de carne moída. 48
Parceiros de Cargill de Crime
A empresa holandesa Ahold Delhaize opera 6.500 lojas sob 21 marcas locais em 11 países. A construção está prestes a começar de uma instalação de 185.000 metros quadrados em North Kingstown, Rhode Island, que a Cargill usará para fornecer carne bovina, carne suína moída e carnes preparadas às lojas do Stop & Shop da Ahold Delhaize.51
A Ahold é muito ativa em chamar responsabilidade para políticas alimentícias. Ela se uniu a outras empresas da assinatura da Declaração de Nova Iorque sobre Florestas, urgindo todas que as empresas ponham fim ao desflorestamento em suas cadeias de fornecimento até 2020. Ela faz parte de “Desafio da Proteína 2040” (Protein Challenge 2040), uma coalizão internacional de varejistas, fabricantes de comida e organizações não governamentais com o objetivo expresso de trabalhar em prol da produção e consumo sustentável de proteína.53
Ela foi um dos signatários originais do Manifesto do Cerrado: Declaração de Apoio (Statement of Support for the Cerrado Manifesto), um documento que exorta a Cargill e outras empresas a cessarem a destruição de região de biodiversidade crucial. Ela tem uma meta estabelecida para 2020 que requer a certificação de toda a soja sul-americana na cadeia de fornecimento de seus produtos de carne a serem etiquetados e vendidos em mercados. Além disso, ela chamou responsabilidade para atingir padrões de direitos humanos consistentes com o Compacto Global da ONU, e apoiar a resolução do Fórum de Bens de Consumo opondo trabalho forçado.54
Em diversos encontros e conversas com a Mighty Earth, funcionários da Ahold Delhaize reconheceram os problemas com a pasto e a carne da Cargill, e repetidamente se comprometeram a agir. Apesar dessa retórica, e de seu conhecimento amplo dos crimes sociais e ambientais da Cargill, a Ahold Delhaize anunciou em maio de 2018 que em vez de se distanciar da Cargill, ela ia se aproximar mais:
Ela anunciou um grande empreendimento conjunto com a Cargill para uma planta de embalagens de 185.000 metros quadrados, a “Infinity Meat Solutions”, para fornecer o Stop & Shop da Ahold Delhaize carnes bovina, bovina moída, suína e “carnes preparadas criativas para refeições de solução”.55,56,57
Em claro contraste com suas palavras, a Ahold Delhaize está recompensando a Cargill com uma oportunidade de acessibilidade a novos mercados gigantesca, tornando os clientes do Stop & Shop cúmplices involuntários e desnecessários dos crimes da Cargill.
Os Facilitadores da Cargill
Embora seja difícil afirmar com certeza que a Cargill é uma empresa privada com práticas secretas, o McDonald’s é provavelmente seu cliente maior e mais importante. Os restaurantes do McDonald’s são essencialmente fachadas para a Cargill. A Cargill não apenas fornece frango e carne para o McDonald’s, ela prepara e congela os hambúrgueres e McNuggets; o McDonald’s simplesmente os reaquece e os serve.49,50
A prática do Burger King de vender carne alimentada na soja da Cargill rendeu à gigante de fast food um zero na súmula do sindicato de desflorestamento da Union of Concerned Scientists. O Burger King pediu que a Cargill parasse de destruir florestas na sua cadeia de fornecimento...até 2030.
Com 55 bilhões de dólares em renda anual, a Sysco Inc. é uma das maiores distribuidores de produtos alimentícios para restaurantes, centros de saúde, universidades, hotéis e pousadas. Apesar de declarar que ela “protegerá o planeta através do avanço em práticas agrícolas sustentáveis que reduzam a emissão de carbono e desvie o lixo dos aterros, para proteger e preservar o meio ambiente para futuras gerações”, a Sysco ainda trata a Cargill como um de seus mais queridos fornecedores de carne suína e bovina.52
Louis Dreyfus e Wilmar, competidores da Cargill, têm mostrado ao mundo que um caminho diferente é possível.58 A Louis Dreyfus Company é um dos quatro maiores comerciantes de soja da América Latina. Mas a Louis Dreyfus reconhece a necessidade urgente de proteger ecossistemas e comunidades nativas. Em um nova política, a empresa declarou que não mais compraria soja de produtores que destruíram ecossistemas nativos ou apropriaram terra de comunidades indígenas. Dada a disponibilidade difundida de terras já degradadas, a Louis Dreyfus reconheceu que poderia continuar a crescer sem destruição.59 Enquanto isso, a Cargill deixa as escavadeiras ligadas. A política da Louis Dreyfus dá a empresas como a Ahold Delhaize e outros facilitadores da Cargill uma saída viável para evitar cumplicidade com os crimes da Cargill. Elas agora têm um claro provedor de grande escala comprometido com soja realmente responsável, e podem mudar suas cadeias de fornecimento para a Louis Dreyfus.
Conclusão
2018 trouxe uma torrente de notícias preocupantes, com as Nações Unidas e o governo dos EUA relatando alertas de urgência para o clima da Terra e seus habitantes.
Primeiro, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática disse que precisamos de “transições rápidas e de longo alcance em energia, terra, urbano e infra-estrutura (incluindo transporte e construção de edifícios) e sistemas industriais” para evitar impactos catastróficos do aquecimento global. Algumas semanas mais tarde, a Quarta Avaliação Nacional do Clima do governo dos EUA em novembro de 2018 disse que, “sem mitigação global substancial e sustentada e esforços de adaptação regional, a mudança climática deverá causar perdas crescentes à infra-estrutura e propriedade americanas e impedir a taxa de crescimento ao longo deste século. ”
Ainda temos uma escolha sobre o futuro que queremos, mas podemos ser a última geração que terá. Um mundo melhor é possível, mas apenas com ação imediata e substantiva.
Embora tanto os relatórios quanto a mídia se concentrem principalmente no papel do governo, na maior parte dos casos não são os governos que poluem ou desmatam — são grandes empresas industriais e multinacionais como a Cargill.
Se os governos fazem ou não o trabalho deles, isso não significa que o trabalho não possa ser feito. Alguns dos maiores sucessos ambientais do mundo foram alcançados pelas empresas, atuando a partir de seu próprio senso de responsabilidade ou estimulados por clientes, investidores e sociedade de forma mais ampla. A própria Cargill e outros comerciantes de soja demonstraram isso protegendo uma parte da Amazônia porque seus clientes exigiam que eles o fizessem.
Mas a Cargill se recusa a expandir essas proteções para outras paisagens, chegando até a anunciar publicamente sua oposição a uma moratória sobre a destruição do inestimável e ameaçado Cerrado do Brasil, apoiado por mais de setenta empresas de bens de consumo. Isso é um tapa na cara de Ahold Delhaize, McDonald's e outros que sondaram repetidamente à Cargill para fazer parte do extraordinário sucesso da Moratória da Soja da Amazônia. Se essas empresas levam a sério seus próprios compromissos de sustentabilidade, elas precisam ir além das chamadas educadas e transferir suas compras para fornecedores mais responsáveis.